quinta-feira, dezembro 29, 2005

FW: o que vocês acham?



A idéia do grupo é ótima: poetizar os percursos do cotidiano, criando novas significações e rompendo a "normalidade" do "todo dia a mesma coisa". Porém, acho que usar placas de trânsito públicas é problemático. Além da função óbvia de ordenar o fluxo de trânsito e evitar acidentes, foram feitas com o dinheiro de todos. Acho importante questionar a concepção de cidade feita para os automóveis, mas da forma como as coisas estão, impedir a informação que ordene um pouco do caos pode criar mais problemas para as pessoas envoltas na "microfísica" de seus já existentes problemas urbanos. Além disso, em vez de aliados, eles podem colecionar detratores - e não só na imprensa e no grande poder-, nas pessoas a quem eles querem sensibilizar. A saída? Talvez oferecer a escolha para o olhar e para a produção de significados, ou seja, colocar placas outras ao lado de placas existentes, inventar novos suportes, formatos, ironizar sem esconder etc

QUIJOTE RESPONDE:
Obrigado pela colaboração em torno de nossas intervenções, porém temos que discordar da idéia de novas placas visuais ao lado dos simbolos de automação. Todos nós podemos nos orientar sem placas poluidoras, impositivas, de significado restrito para a complexidade de nosso olhar, dos possiveis caminhos que podemos cavalgar, já diria Cervantes... Não somos contra as placas de trânsito, mas não acreditamos somente na funcionalidade dos codigos oficiais, que para nós de certa forma prestam um deserviço ao trânsito e ao cidadão - por mais que a principio pareçam o contrario. Acreditamos na inteligencia do ser humano, nao podemos subestima-lo. A raiz dos problemas do espaço público permeia seus codigos velozes, sua organização progressista, sua saturação visual e simplista, sua respiração acelerada. Novos suportes já estão sendo produzidos para os microcosmos também, é só aguardar. Mas quanto ao macro, façamos da desordem o progresso, da poesia a resignificação, de nossa sinestesia a força que liberta o discurso reacionário do primeiro olhar. Façamos como Ch´u-shih Fan-ch´i.

"Sui-ch´ing yu-chien"

"Clareando-se a água, vêem-se os peixes"
Ch´u-shih Fan-ch´i
(1297-1371)

terça-feira, dezembro 27, 2005

RESPOSTA AO JORNAL “O DIÁRIO DE SÃO PAULO”, AO PREFEITO JOSÉ SERRA E AO DIRETOR DE OPERAÇOES DA CET

(referente a matéria “Serra critica nova ação de adesiveiros” em 26 de dezembro de 2005)



É certo que não estamos alterando as placas de trânsito para provocar um caos na sinalização da cidade de São Paulo e atrapalhar o trânsito. Somos poetas visuais, militantes líricos, defensores do olhar múltiplo e humano, embebidos pela visceralidade poética de Don Quijote - o cavaleiro andante. Não há violência. Não há crime em nossas interações com a cidade. Por isso pedimos o direito de respota para tantas acusações, para o discurso parcial, para a violência de vossas palavras.

Resignificar símbolos de automação, fomentar o questionamento do espaço público, alimentar a cidade de arquetipos miticos e espirituosos. Mas parece que não convém amplificarem nosso questionamento artístico, afinal é preciso classificar, é preciso pensar no prejuízo público, é preciso passar um pano com alcool e água para que nossos adesivos sejam retirados. Mas o que convém perguntar? Despertar um olhar transformador?

“É vandalismo, é uma gangue”, assim fica simples (é só mandar prender senhor prefeito), afinal não há tempo para novas percepções, para desnudar a precipitação do primeiro olhar. E tratando-se do poder público e dos meios de comunicação, olhares imediatistas tornam-se fatais, não? Quanto tempo perdido em decisões editorias e governamentais feitas com base em maniqueísmos simplistas.

Vamos amplificar com imparcialidade a interação do humano no espaço público? Ou mantemos o clima de denuncismo parcial e superficial? Queremos olhar as coisas com calma em nossa cidade, sem tantos juízos de valores, apenas sentir por nós mesmos. Por isso nossas exposições a céu aberto, nosso convite a contemplação de novas possibilidades urbanas, de interação humana, de desaturação visual.

Não prejudicamos a população com nossas interferências, as placas podem ser removidas com um simples produto de limpeza como foi dito - não é preciso tanto sensacionalismo ou imediatismo Sr. Adauto Martinez Filho (diretor de operações da CET). Também não facilitamos acidentes colando novos simbolos visuais sobre a sinalização de trânsito, afinal se o motorista não vê uma placa com o sentido da rua, é obrigado a parar e olhar para os lados, respirar um pouco no meio do trânsito caótico, ver as coisas, aliviar a tensão do seu ser eminentemente urbano.

"O condicionamento se reorganiza na percepção da mudança do código. Sentado-brinco, olhando-canto, percebo que existo." Beija-flor, integrante do grupo Don Quijote.

Estamos propondo exposições a céu aberto. No começo dos dois sentidos da avenida Brasil, por exemplo, haviam placas de entrada e saída de museu. Durante a passagem alegórica de carros alegóricos pela via, entrava-se em contato com placas líricas (piões e pipas). Denominamos de “Zona de la Alegria”. Na Rua Estados Unidos inúmeras placas brancas foram colocadas para emanar tranquilidade e vazio espiritual à cidade, fazendo referência ao respiro e a purificação necessária ao ser humano. Denominamos de “Zona del Zen”. O primeiro olhar bruto tende a querer definir e não deixar perceber e sentir pelo corpo toda a carga que as pessoas recebem e julgam através da mente.

“È uma interferência parecida como o grafite, mas tem outra linguagem. Ao invés de depredação, é uma discussão sobre a retomada do espaço público. Aparentemente é depredatória, mas não é. Essas imagens grudadas servem para discutir o espaço público.” Silvio Miele, professor de comunicação social e arte multimídia da PUC de São Paulo.

Despertar e amplificar o sensorial. Não queremos que as pessoas pensem a respeito, mas sintam a respeito. As placas não estão em oposto, ou não são contra a cidade. Existe algo que conecte essas placas à cidade. São os seres humanos. E infelizmente os seres humanos estão muito esquecidos na cidade. Nós acreditamos no ser humano. Proibido árvores na paulista, minotauro, polvos, piões e pipas na av. Brasil. Buscamos trazer uma fauna de lirismo para uma cidade carregada de maniqueísmos. As nuanças entre o branco e preto. Não somos artistas ou vândalos. O nosso trabalho traz essa fauna que está extinta, que geralmente se encontra nas galerias encaixotas, nas salas de cinema de 15 reais, ou na periferia nas comunidades de manifestação artística. Porque isso não pode se alastrar pela cidade? Por que a publicidade se alastra de uma maneira tão opressora e violenta e não é questionada ou não é criminosa. Vândalas são placas que querem colocar poesia e nuanças em espaços públicos? Isso é vandalismo? O que é vandalismo?

Porque choca tanto quando o patrimônio público é interagido? E por que não choca quando o patrimônio privado usurpa o patrimônio público? Porque isso não é questionado e é tratado com tanto respeito pelos meios de comunicação que deveriam fomentar esse tipo de discussão? Vejam que curioso o anúncio de uma das maiores agências de publicidade do país (agência África), se não a maior. A placa é exatamente igual a uma placa de sinalização, aplicada exatamente nos postes de sinalização. Onde estão as denúncias de vandalismo? Onde estão as preocupaçõesde acidentes? Onde andará o poder público em relação as intervenções lícitas da indústria no espaço público, da publicidade?

Não queremos dar respostas. Fazemos perguntas. São perguntas para o corpo. Para as pessoas sentirem nossas perguntas. Não para as pessoas queimarem neurônios. É diferente! Se fosse assim estaríamos carregando uma bandeira panfletária, partidária, de significado único. Nossos símbolos valem mais que nossas palavras. Nossa energia não é a do protesto carregado de ódios ou angustias. Somos movidos por nossas próprias subjetividades. Acreditamos no coletivo como fruto de individuos com identidade, únicos, repletos de amor. E é com isso que produzimos nossas intervenções, que convidamos a todos para interagirem.

“Basta contemplar isso - o que permanece, o que se passa... sem acrescentar nenhum pensamento, sem se identificar com o que acontece, sem preocupação de si. Azul é a resposta do céu, verde a dos campos”. Jean-Yves Leloup, comentário sobre a IX etapa Zen

Saudações,
Don Quijote

Diário de São Paulo. 26 de dezembro


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Estado de São Paulo. 27 de dezembro

Grande Sertao: Veredas

"Estou contando ao senhor, que carece de um explicado. Pensar mal é fácil, porque esta vida é embrejada. A gente vive, eu acho, é mesmo para se desiludir e desmisturar. A servegonhice reina, tão leve e leve pertencidamente, que por primeiro não se crê no sincero sem maldade".

João Guimarães Rosa

Dom Quijote


Em breve documentário.
Saudações,
Don Quijote

IX etapa Zen

“Procurar a origem - inquietar-se com a fonte, já é um passo em falso. Permanecer em si mesmo, sem procurar ver, nem escutar, em uma base sem questões, abre a porta aos mistérios: algo além do nada - murmúrio do riacho - a flor da macieira avermelhou - sem porquê".

Zona del Zen

"Para que os pedidos sejam atendidos é necessario que sejam justos"


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domingo, dezembro 18, 2005

Seja breve no embarque e desembarque de seu Tanque

Permitido Minotauro



A mesmice da normalização provoca um olhar saturado de aceitações. Somos obrigados a nos guiar por setas e direções alheias. Tudo MUITO claro, tudo MUITO reto, tudo MUITO certo. Certo como uma placa proibindo de se estacionar escondida atrás de uma árvore e tomar uma multa por isso. Certo como a Zona Azul... e eu me pergunto que porra é essa? Certo como ser obrigado a engolir propaganda massificada de hormônios e consumo vazio. A automação dos cidadãos normalizados imputa um olhar adestrado, e amputa a subjetividade e a surrealidade inerente a nossa complexibilidade. A cidade é o espaço, para nossas idéias e ideais, e sua porosidade legalmente protegida tem de ser estuprada para receber novas visões.É certo que foram estes questionamentos e percepções que motivaram o senhor Don Quijote a intervir em placas que possuem setas a apontar, proibir e permitir caminhos um tanto incertos. Permitido $ no Itaim, Permitido jogar golfe no Morumbi, "Cidadãos correndo atráz de dinheiro", Proibido consumir, "permitido negociações ilícitas", proibido árvores na avenida Pedro Álvares Cabral, Carros não são tanques de guerra e arma não é proteção para o cidadão medroso e estressado.
Soa muito mais coerente com a realidade do que a apática placa de "veículos lentos à direita".

permitido.permitir@gmail.com

terça-feira, dezembro 13, 2005

"O ato de resistência possui duas faces. Ele é humano e também é um ato artístico. Somente o ato de resistência resiste a morte, seja sob a forma de obra de arte, seja sob a forma de uma luta dos homens".
Gilles Deleuze

sábado, dezembro 10, 2005

"Eu semeio o vento na minha cidade, vou pra rua e bebo a tempestade".
BUARQUE, Chico. "Bom Conselho"

quarta-feira, dezembro 07, 2005

terça-feira, dezembro 06, 2005

Matéria na Capa do DIÁRIO DE SP. hoje.

Matéria na Capa do DIÁRIO DE SP. 6 de Dezembro.

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Matéria na Capa do DIÁRIO DE SP. hoje.

"É Permitido PERMITIR"

Projeto de intervenção urbana nas ruas da cidade de São Paulo, que tem por objetivo questionar a automação dos cidadãos e as infinitas proibições impostas sem qualquer discussão do espaço público. Segundo Kapra, informação é controle e no pensamento sistêmico (vide Teia da Vida), a informação não existe. É apenas poder de convencimento e aceitação. Utilizando as placas de trânsito como suporte artístico cria-se novas permissões, símbolos e significados que buscam a amplificação do olhar no condicionamento cotidiano.